quinta-feira, 24 de maio de 2007

Que álcool se bebe em Portugal?


A utilização lícita de bebidas alcoólicas está fortemente entrosada na cultura e economia da maioria dos países Europeus que incondicionalmente toleram não só o consumo do álcool, mas igualmente o processo de alcoolização.
Aludindo pelas diferentes culturas e tradições mundanas, a qualificação do álcool como “lubrificador de relações sociais humanas”, regulamenta os fenómenos que disciplinam a normalidade vigente das sociedades contemporâneas.
A Europa continua a ser a região do mundo que mais produz e consome bebidas alcoólicas, apresentando o Luxemburgo no topo da classificação com um consumo médio de álcool puro per capita de 12,6 L, seguido pela Hungria com 11,4 L e República Checa com 11L. Portugal, infelizmente, ocupa o pouco honroso 8º lugar com um consumo médio de álcool puro de 9,6 L.
Estes dados suportam a catalogação de Portugal como um dos maiores consumidores de álcool do mundo, enquadrado num modelo de ingestão de álcool tradicionalmente caracterizado pelo consumo de vinho diário, particularmente às refeições e numa permutação global dos padrões de beber dos países industrializados ao nível do aumento do consumo de cerveja.
Os resultados estatísticos nacionais mais relevantes referentes ao consumo do álcool (Inquérito Nacional de Saúde) revelaram, em termos gerais, uma diminuição da prevalência de consumidores de álcool, predominantemente os homens e uma diminuição da quantidade média do consumo do álcool (gramas), marcada pela transposição do consumo de vinho para cerveja, sobretudo nas faixas etárias mais jovens.
Os dados epidemiológicos relativos às doenças do álcool, demonstram que o seu consumo excessivo provoca profundas ramificações sociais, médicas e psicológicas, não só para o indivíduo, mas também para aqueles que o rodeiam, devendo ser exaltado com maior proeminência nas agendas sócio-políticas que nos regem.
Actualmente, o alcoolismo deve ser reconhecido como um grave problema de saúde pública, oscilando a taxa de prevalência entre 1% a 10% da população. Em Portugal, é frequente referir-se que cerca de 10% da população apresenta graves incapacidades ligadas ao álcool. Provavelmente falamos da maior toxicodependência dos portugueses.
Para termos ideia dos custos do alcoolismo para o erário público, basta-nos a simples equação: o valor médio da produção de bebidas alcoólicas representa 2 % do Produto Nacional Bruto (PNB), enquanto que o custo económico dos problemas ligados ao álcool (PLA) atinge os 5 a 6 % do Produto Nacional Bruto.
A vigilância de saúde pública deve concentrar as suas atenções na permutação dos hábitos tradicionais do consumo de bebidas alcoólicas, nomeadamente: 1 – aumento do consumo em dois grupos populacionais de risco – jovens, pela sua imaturidade orgânica e as mulheres, pela sua menor capacidade em metabolizar o álcool; 2 – jovens com um padrão de consumo orientado para a embriaguez; 3 – associação do álcool a outras substâncias que alteram o funcionamento mental (haxixe, cocaína); 4 – aparecimento em superfícies comerciais de bebidas com embalagens muito atractivas - design drinks, conhecidas como alcopops, em que o álcool aparece diluído em sumos fortemente adocicados, de modo a neutralizar o sabor do álcool e a sua rejeição natural; 4 – aparecimento de produtos não alcoólicos com apetência especial para as crianças, com uma apresentação sugestiva de uma bebida alcoólica (ex. espumante), cuja a intenção é mimetizar as saudações e festas comemorativas dos adultos; 5 – estreita colaboração entre as marcas de bebidas e as actividades académicas, desportivas e culturais, dirigindo os seus targets a grupos populacionais de maior risco, tendo como resultado o aumento da incidência de alcoolizações maciças e comportamentos de hetero-agressividade; 6 – veiculação de notícias imprecisas, vagas e por vezes francamente erróneas acerca dos putativos benefícios das bebidas alcoólicas para a saúde.
A conceptualização do consumo do álcool alicerça-se num amplo conjunto de factores intra e inter-dependentes (políticos, culturais, económicos, sanitários, pessoais, etc), que concorrem para a necessidade crescente de adoptar um enfoque integrador da alcoologia portuguesa, gizando em uníssono a redução efectiva dos Problemas Ligados ao Álcool (PLA).

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